Qual o melhor café moído e torrado do supermercado? ‘Paladar’ testou 11 marcas

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Qual o melhor café moído e torrado do supermercado? ‘Paladar’ testou 11 marcas

*Preços atualizados em 23/11/2023. O cafezinho nosso de cada dia está com um preço de amargar - o café torrado e moído lidera o ranking de alta no pre

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*Preços atualizados em 23/11/2023.

O cafezinho nosso de cada dia está com um preço de amargar – o café torrado e moído lidera o ranking de alta no preço dos alimentos, com um aumento de 50,24% no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Por conta disso, o Paladar decidiu testar algumas das marcas mais populares dos supermercados, a fim de te ajudar a escolher um produto com melhor custo-benefício para o dia a dia.

Para realizar tal tarefa, convocamos um júri de peso, composto por cinco especialistas (confira abaixo), que provou às cegas 11 amostras da linha tradicional das marcas; versões “especial”, “exportação”, “intensa”, “extraforte”, entre outras, ficaram de fora do painel.

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Cada jurado recebeu em casa uma caixa contendo porções descaracterizadas desses cafés, identificadas apenas por números, além das instruções de preparo (40 gramas de pó para 600 mililitros de água). Por ser o mais popular entre os métodos de extração, os cafés foram coados em filtro de papel Melitta.

Avaliação levou em conta oaroma, sabor e corpo dos cafés. Foto: Daniel Teixeira/Estadão

A análise levou em conta as qualidades e os defeitos encontrados nas amostras em três quesitos: aroma, corpo e sabor. Um bom café, assim como o vinho, deve apresentar um toque macio na boca, além de ser encorpado e naturalmente doce. A acidez, que faz salivar no final, também é esperada. Já o amargor, ao contrário do que se pensa, não é desejável. Ele até pode aparecer, mas só quando a bebida está mais concentrada, por conta do sabor natural da cafeína.

A degustação

“O grande desafio foi achar o brilho do café (como doçura e acidez) em meio a tanto amargor”, reclamou um dos jurados. Ocorre que a grande indústria costuma optar por cafés de torra mais intensa para esconder possíveis defeitos, causados pela baixa qualidade da matéria-prima ou pela falta de cuidado e rigor no processo produtivo. Mas também é verdade que essa torra bem escura agrada “a um público que acabou se acostumando com esse padrão de bebida”, lembra outro jurado.

Apesar disso, algumas amostras conseguiram surpreender parte do júri por apresentar, ainda que timidamente, notas de doçura – geralmente nozes e caramelo – e certa acidez no final. Tirando as últimas colocações do ranking, os cafés, em geral, mostraram-se “capazes de atender ao grande público no consumo do dia a dia, sem maiores pretensões sensoriais”, principalmente pela relação custo-benefício (apesar da alta de preços), cravou o especialista Ensei Neto. Para se ter ideia, um café especial, produzido artesanalmente, em pequena escala, chega a custar o dobro dos cafés de mercado.

Amargor acentuado foi defeito mais encontrado pelos jurados. Foto: Daniel Teixeira/Estadão

“É preciso trabalhar para que o café de qualidade seja mais acessível a todos aqui no Brasil. Não é justo que sejamos o maior produtor de café do mundo, que tenhamos os cafés mais incríveis do mundo e que a maior parte da nossa população ainda tome uma bebida de qualidade inferior. Que tal a gente tentar subir um degrau?”, desafia Giuliana Bastos.

Ranking

1º Três Corações

(R$ 35,09; 400g, no Sonda)

Bem que a embalagem avisa: “o sabor que apaixona”. E foram mesmo as notas sutis de acidez e doçura, com um quê de chocolate e fruta, percebidas na boca, que garantiram ao café a primeira colocação – ainda que o amargor se mostrasse presente. No aroma, surgiram notas de terra, avelã, nozes, caramelo queimado. O corpo foi considerado médio. “É um café OK, dá para tomar na reunião ou antes do trabalho. Tem um amargorzinho na língua no final”, definiu um dos jurados.

2º Melitta

(R$ 22,87; 500g, no Carrefour)

O segundo colocado apresenta notas muito leves de doçura e acidez, com um “amarguinho na língua” no final. No nariz, os jurados perceberam aromas sutis de frutas secas, rapadura, chocolate ao leite, mas também de naftalina e palha – o que fez o produto perder alguns pontos. Tem corpo médio-baixo, boa persistência e, segundo um dos jurados, “agrada a quem gosta de um café coado menos intenso. Tem potencial”.

3º Fort

(R$ 16,98; 500g, no Trimais)

Grande surpresa na degustação às cegas, o café de nome pouco conhecido por aqui é, na verdade, a segunda linha da Três Corações. Tem corpo médio, boa estrutura e discreta adstringência. No nariz, apresenta aroma suave de rapadura, frutas amarelas, caramelo e pão, mas também defeitos, como o cheiro de banco de carro. Na boca, “talvez pela torra um pouco menos acentuada e pela moagem mais grossa, foi o que apresentou o menor amargor e maior equilíbrio entre todos”, cravou um dos jurados, enquanto o outro, definiu: “bom para café coado do dia a dia”.

4º Café do Ponto

(R$ 20,79; 100g, no Pão de Açúcar)

Apesar de não ter conquistado o pódio, o café se saiu bem na avaliação sensorial. No nariz, os jurados identificaram aromas florais, frutados e de especiarias, mas também um leve queimado. Com corpo leve para médio, “sem aspereza”, apresenta notas doces de caramelo, mel e chocolate, além de acidez sutil. “O amargor é presente, mas menos intenso que na maioria das xícaras”, acrescentou um dos jurados.

5º Caboclo

(R$ 16,68; 500g, no Sonda)

“Cadê a doçura desse café? Sumiu”, destacou um jurado. A torra, provavelmente muito intensa, contribuiu para um café basicamente amargo, com notas de carbonização. Apesar disso, entrega aromas interessantes durante o preparo, como nozes, amendoim e um leve amadeirado. “Não é de todo ruim. Com um pouco mais de esforço, poderia se tornar um café do dia a dia”, arriscou um dos jurados.

6º Pelé

(R$ 14,99; 500g, no Carrefour)

Apesar do “torra média” estampado na embalagem, perdeu muitos pontos pelo amargor intenso, com sabor residual prolongado de queimado. Ainda assim, o café de corpo médio apresentou certa acidez na boca e um aroma adocicado muito sutil. “Lá no fundo se percebe um caramelo.”

7º Moka

(R$ 14,98; 500g, no Trimais)

O aroma de “queimado, banco de carro e gaveta de avó” pode assustar um degustador mais atento. Na boca, porém, o café saiu melhor que o esperado: mostrou-se uma bebida medianamente encorpada, adstringente, levemente ácida e adocicada, com amargor presente, que, para um dos jurados, lembrou “café solúvel”.

8º Bom Jesus

(R$ 14,98; 500g, no Trimais)

“Forte e gostoso”, exalta a embalagem do café que é da mesma família do Melitta. Bem, se forte for sinônimo de amargo, o slogan entrega o que promete. “É um café que quase nos engana, pois apresenta notas frutadas e doces. Mas, aos poucos, essas notas vão desaparecendo e dando espaço ao sabor de queimado e cinzas. A finalização é desagradável e persistente”, resumiu um jurado.

9º Pilão

(R$ 23,08; 500g, no Sonda)

“O café forte do Brasil” apresenta aroma intenso de torra escura, com notas amadeiradas e de borracha queimada. Na boca, mostra-se encorpado, adstringente e tão amargo que torna impossível identificar outros sabores relevantes. “Faz arder a garganta”, reclamou um dos jurados. Essa é a versão Tradicional dos cafés da marca; no mercado, também estão disponíveis as opções Intenso e Extraforte.

10º Café Brasileiro

(R$ 15,29; 500g, no Pão de Açúcar)

Já no coador, o café deu pistas de que não passaria pelo crivo dos jurados: apresentou um cheiro forte de café queimado, com notas de fermentação ruim e aroma medicinal. Na boca, o gosto de remédio persiste, acompanhado de um amargor muito intenso, que aparece logo no início e deixa um sabor desagradável na língua.

11º Jardim

(R$ 14,29; 500g, no Carrefour)

Segundo a embalagem, trata-se de um café de “torra média”, mas não foi o que pareceu aos jurados na degustação às cegas. A começar pelo aroma de borracha queimada, que denuncia uma torra escura, muito intensa. Na boca, mostrou-se um café adstringente, com baixa acidez, notas medicinais, além de um amargor desagradável muito intenso.

Júri provou 11 marcas de cafés de supermercado. Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Os jurados

Dany Simon, @danythesimon É economista e financista, mas encontrou na gastronomia a sua grande paixão. Atua como consultor financeiro, estratégico e de serviço de café para negócios de alimentos e bebidas. E alerta: “amargor é defeito, viu?!”

Ensei Neto, @enseineto Especialista em cafés, atua como consultor em bebidas e alimentos. É também autor do blog Um café para dividir, publicado pelo Paladar. Avesso à demonização dos cafés tradicionais, “já que há cafés para todas as preferências”, considerou as amostras degustadas “bastante nivelados, com algumas boas surpresas”.

Giuliana Bastos, @giuliana_bastos_cafe Jornalista, é editora-chefe do PDG Brasil, site especializado em cafés, e é também criadora do Grão Coletivo, que reúne cafeterias e microtorrefações de todo o País. Na degustação, fez careta para uma porção de cafés, mas também ficou surpresa com algumas notas e texturas. “O prazer que um café bem feito pode proporcionar é imenso.”

Flávia Pogliani, @thelittlecoffeeshop É barista, criadora da Coffee Week e está à frente do The Little Coffee Shop, que deve reabrir no mês que vem. Decepcionada com a qualidade dos cafés provados na degustação, cravou: “melhor tomar menos café e investir em cafés de qualidade”.

Mariana Proença, @marianaproencafe É jornalista e colunista da revista Espresso. É curadora da Semana Internacional do Café (SIC), maior feira de cafés especiais do País, e da versão brasileira da São Paulo Coffee Festival. “Convido aos consumidores que queiram provar novos sabores a se embrenhar em cafés em grãos, em experiências diferentes, pois vale a pena testar.”

Que cheiro é esse?

Cheiro de banco de carro? De pneu queimado? De gaveta de avó? Esses e outros termos – como papelão molhado, curral e suor de cavalo – são comumente usados por degustadores para descrever aromas e sabores percebidos na prova de cafés, vinhos, queijos, cervejas. Vale reforçar que esses adjetivos referem-se à percepção sensorial e não à composição dos produtos. “Há quem fale que os cafés produzidos pela grande indústria são adulterados com madeira, cereais, entre outros materiais, o que é muito difícil. A fiscalização é pesada”, pondera Ensei Neto. Se quiser garantir, procure nas embalagens dos cafés selos como o da Abic (Associação Brasileira da Indústria de Café), de “pureza e qualidade”.



Fonte: Externa

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