Se antes o Google era a principal ferramenta utilizada para fazer buscas, hoje esse cenário não é mais o mesmo — pelo menos entre a Geração Z, aquele
Se antes o Google era a principal ferramenta utilizada para fazer buscas, hoje esse cenário não é mais o mesmo — pelo menos entre a Geração Z, aqueles nascidos entre 1996 e 2010.
Pesquisa da YPulse para o site Axios mostrou que apenas 46% das pessoas na faixa dos 18 a 24 anos iniciam suas buscas no Google, à medida que essa porcentagem aumenta para 58% entre aqueles com 25 a 39 anos.
Segundo a diretora de conteúdo da YPulse, MaryLeigh Bliss, as redes sociais “deixaram de ser um lugar para se conectar com amigos e familiares e passaram a ser uma ‘rodovia’ de informações”.
Conforme o estudo, 21% dos jovens começam pelo TikTok quando precisam achar alguma informação, enquanto somente 5% optam pelo YouTube.
Isabela Soller, CEO do grupo Soller e especialista em gerenciamento de criadores de conteúdo, analisa que esse movimento se deve em parte a um comodismo, uma vez que as pessoas conseguem juntar duas práticas em uma plataforma só: pesquisar e se entreter.
Para isso, “o TikTok fez algumas atualizações com mecanismos de buscas muito parecidas com o do Google. Um dos exemplos, é que agora você consegue ter até trechos da Wikipédia dentro do aplicativo, isso acaba ajudando a criar nos usuários o hábito de fazer pesquisas no próprio ambiente que você já consome conteúdo”, explicou ela.
TikTok: o novo Google
Esse movimento não é novo, ao longo de 30 anos houveram diversas substituições e releituras de redes sociais, desde a época do MSN, MySpace e Orkut, por exemplo.
Agora, o aplicativo da vez é o TikTok, que já conta com mais de 1 bilhão de usuários e tem sido usado por 2 em cada 5 norte-americanos como mecanismo de busca, segundo levantamento da Adobe divulgado no início deste mês.
A pesquisadora em comunicação digital da USP, Issaaf Karhawi, explica esse movimento através da lógica do “aprisionamento” — muito utilizada pelas Big Techs — onde as plataformas “vão sendo cada vez mais desenhadas para que passemos a maior parte do tempo dentro delas a ponto da gente achar que é mais fácil fazer tudo ali mesmo”.
Termos mais pesquisados na seção de comentários e a possibilidade de encontrar conteúdos descrevendo o que se deseja ver são algumas das características pontuadas pela pesquisadora que diferenciam o TikTok de outros aplicativos, como o Instagram e até do Google.
A Adobe apontou que, na maioria das vezes, os consumidores recorriam ao TikTok em busca de novas receitas, novas músicas, trabalhos manuais e conselhos de moda.
A pesquisa ainda apontou que essa mudança ocorre principalmente entre a Geração Z, com 64% dos seus membros usando a plataforma como motor de busca nos EUA, enquanto isso ocorre apenas com 49% dos millennials.
Para a especialista da USP, essa predileção acontece porque, através dos algoritmos, os conteúdos e também as averiguações acabam sendo feitas sob medida.
E é assim que um a cada 10 membros da Geração Z são mais propensos a confiar nessa plataforma do que no Google como mecanismo de busca, de acordo com o estudo.
Vídeos prendem a Geração Z, ainda mais se forem curtos
Na pesquisa, a Geração Z afirmou preferirem o TikTok devido ao formato de vídeos curtos, que impactam a forma de consumo com a sensação de aceleração, consumindo mais em um espaço de tempo menor — o que é mais lucrativo para as empresas que inserem cada vez mais anúncios — analisou Karhawi.
Dessa forma, a proposta de negócios acabou influenciando não só a maneira como os jovens consomem entretenimento, mas também a informação.
Para Marina Abud, psicóloga e psicanalista, especialista no estudo dos efeitos da virtualidade sobre o sujeito contemporâneo, a visualização do conteúdo em movimento, em detrimento de imagens estáticas e até de conteúdos escritos, aproxima a informação dos indivíduos.
“É como se você conhecesse aquele que tá ali através da tela. Como se fosse o seu amigo te contando alguma coisa, alguma história. Então é uma conexão, uma proximidade, uma sensação de intimidade muito maior”, disse Abud.
As especialistas indicam como pontos negativos desse processo a criação de bolhas de informação, uma constante comparação e a falta de paciência para realizar uma pesquisa aprofundada e que demande mais atenção.
“O que a gente tem visto hoje são relatos de pessoas que têm dificuldade em ler, em terminar um livro até o final e assistir uma aula. Porque estar ali com a tensão no foco em uma só coisa passou a ser um desafio”, concluiu a psicóloga e psicanalista.
*Sob supervisão de Larissa Coelho