Governo Lula vê agenda de aumento de arrecadação perder força daqui para frente

CasaNotícias

Governo Lula vê agenda de aumento de arrecadação perder força daqui para frente

BRASÍLIA – O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem visto a agenda focada em aumento de arrecadação federal perder força daqui para

Conheça a história de brasileiro que foi de pedreiro a dono de construtora de luxo nos EUA
Nunes diz que empresa acusada de ligação com PCC não cuidará mais do ônibus aquático de São Paulo
Justiça embarga obras de condomínio da JHSF no interior de SP; empresa nega irregularidades

BRASÍLIA – O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem visto a agenda focada em aumento de arrecadação federal perder força daqui para frente. A percepção é reforçada por parlamentares, integrantes do mercado financeiro e por recentes movimentos da própria equipe econômica.

Ministros Fernando Haddad (Fazenda) e Simone Tebet (Planejamento e Orçamento). Foto: Diogo Zacarias/Ministério da Fazenda

“Já está se exaurindo o aumento do Orçamento brasileiro pela ótica da receita, passar disso significaria aumentar imposto. Há ainda outra medida pela ótica da receita? Só o ministro da Fazenda, Fernando Haddad pode dizer, eu não posso adiantar, se houver necessidade. O que precisamos colocar para rodar é a esteira sob a ótica da despesa. O que cortar, como cortar”, afirmou a ministra.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, também falou sobre a dificuldade do Executivo com as metas fiscais. De acordo com ele, o tempo para fixar uma meta factível para 2025 está “se esgotando”. A fala foi recebida como mais uma sinalização de que o governo pode ser forçado a reduzir a agenda que busca aumento de receitas via reoneração, criação de taxas e novas formas de cobrar impostos.

“Estamos esgotando o tempo para fazer as contas necessárias e fixar uma meta factível”, disse Haddad na segunda-feira, 8. Até segunda-feira, dia 15, o governo precisa fixar a meta fiscal para 2025 ao enviar o Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLDO) para o Congresso Nacional. O governo avalia rever a meta fiscal de 2025, de 0,5% do PIB, para baixo, entre 0,25% e 0% do PIB.

Com a agenda de aumento de arrecadação em risco, Haddad tem sinalizado que o foco da equipe econômica neste ano deve ser a regulamentação da reforma tributária, que efetivaria as mudanças na cobrança de impostos sobre o consumo, que tradicionalmente pesam sobre quem tem menor renda. Além disso, o governo quer salvar o que é possível aprovar da agenda de reoneração da folha, que já teve perdas. Algumas pautas também estão no horizonte, como a tributação de lucros e dividendos.

“Nunca se tem uma previsibilidade exata de arrecadação e a agenda aqui (no Congresso) está muito polarizada como pautas como a ‘saidinha’. Esse território, eles adoram, porque é o território do time de futebol, ou você está aqui ou você está ali. Eu prefiro ficar na outra agenda”, afirma o líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA).

No lado político, há aspectos que também dificultam a agenda de aumento de receitas. Em 2024, os municípios vão passar por eleição. No Congresso Nacional, os parlamentares resistem em aprovar novos projetos de cobrança e aumento de impostos. Além disso, a queda de popularidade do presidente Lula também é colocada como obstáculo para essa pauta. Com popularidade menor, o governo tem menos força para propor aumento de arrecadação. Fora isso, o Executivo já aprovou uma parte da agenda em 2023, no primeiro ano de mandato.

“Tudo sugere que o governo começa a enxergar que a agenda de aumento de arrecadação perdeu fôlego. Em um contexto de baixa popularidade, é receoso expor o presidente em uma agenda já desgastante, o que acaba reforçando o papel do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, como interlocutor”, avalia o cientista político e sócio da Tendências Consultoria Rafael Cortez. Para ele, no cenário mais positivo, a pauta se encerraria com a tributação da renda, uma agenda que ainda enfrenta um cenário “cheio de risco.”

No Congresso, a reoneração da folha de pagamentos sofreu perdas. O governo teve que revogar a reoneração para 17 setores da economia. A cobrança sobre a folha dos municípios também sofreu um revés, com a devolução da medida por parte do presidente do Congresso, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). Sobraram a revogação do Programa Emergencial de Retomada do Setor de Eventos (Perse) – que será mantido, mas com mudanças – e a limitação das compensações tributárias.

“Cumprindo o arcabouço fiscal, a mudança da meta para 0,25% não representa muita coisa. O que ainda precisamos saber é qual o efeito do aumento de receitas para 2025″, diz o deputado Mauro Benevides Filho (PDT-CE), escolhido como vice-presidente da comissão mista que vai discutir a reoneração. “Há um efeito de curto prazo do que o Congresso aprovou muito mais forte para 2024 e muita gente acha que isso não passaria para 2025 no mesmo patamar. Vai depender muito do crescimento econômico.”

A agenda de aumento de arrecadação perdendo forças é um sinal de obstáculo para o cumprimento do arcabouço fiscal, aprovado em 2023. Com aumento real de despesas previsto pela regra fiscal todos os anos, o governo precisa aumentar a arrecadação para sustentar as contas públicas. O arcabouço determina que a despesa pode crescer 70% do aumento da receita, num intervalo entre 0,6% e 2,5% acima da inflação

“Acabou a fase de conseguir receitas fáceis em grandes volumes. Tudo que está na mesa vai ser um punhado. Para fazer a diferença na balança, só quando colocar a gestão e o corte das despesas”, afirma o economista-chefe da Reag Investimentos, Marcelo Fonseca.

Fonte: Externa