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Apesar do recuo no desmatamento da Amazônia, o Cerrado brasileiro continua alvo da devastação descontrolada para o crescimento de atividades econômicas não sustentáveis. Mais da metade desse ecossistema foi destruído para dar lugar à agricultura de larga escala, entre elas, o algodão, principalmente nas últimas duas últimas décadas. O caminho dessa planta, que começa na lavoura e acaba no varejo da moda, virou alvo de investigação no último ano da Earthsigth, ONG britânica voltada a investigação de crimes ambientais. A empresa avaliou imagens de satélites, decisões judiciais e registros de exportações de oito grandes produtores brasileiros, que revelaram 800 mil toneladas de algodão brasileiro fruto do desmatamento do Cerrado – que foram enviados para a Ásia e se transformaram em 250 milhões de peças de roupas das duas das principais empresas varejistas da moda, Zara, que já acumula processos como o de trabalho escravo na produção de roupas, e H&M.
Falta de boas práticas e de responsabilidade social, além de esquemas irregulares no processo de certificação do algodão, foram quesitos importantes na avaliação dos resultados da empresa inglesa. A coerção e a intimidação surgiram como métodos de conquistas de novas áreas. A ONG chama atenção para o fato de o Brasil ter aumentado drasticamente a produção de algodão, que hoje é cultivada em rotação com a soja. “À medida que o algodão cresce as comunidades locais definham”, diz o relatório.
A matéria-prima em questão foi certificada pela Better Cotton, plataforma internacional de sustentabilidade do algodão, representante de 2,2 milhões de agricultores, em 22 países. “Trata-se de uma certificação concedida pelo próprio setor que produz, o que dá margem às irregularidades”, disse a VEJA Rubens Carvalho, diretor adjunto do Earthsight. A ONG detectou esquemas também no processo de liberação de terras para agricultura, principalmente na Bahia. A Better Cotton virou alvo de investigação da Justiça.
“As empresas varejistas não estão atentas à origem da matéria-prima. Queremos chamar a atenção para isso”. A intenção vai além: em vez de deixar a decisão da compra de um produto manchado pelo desmatamento na mão do consumidor, a empresa pede por uma legislação que impeça o comércio das roupas originadas a partir do cultivo não sustentável.