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Em abril de 2014, o colombiano Gabriel García Márquez foi internado às pressas em um hospital na Cidade do México. Diagnosticado com pneumonia e suspeita de câncer no pulmão, Gabo, como era conhecido, foi levado para a casa onde viveu por mais de trinta anos na capital mexicana para passar o resto de sua vida. Criador de monumentos literários como Cem Anos de Solidão, ao autor morreu pouco depois, em 17 de abril — há exatos 10 anos — deixando um legado imensurável para a literatura.
Uma década depois da morte, o legado de Gabo segue vivo através de livros, inclusive inéditos: em março, foi lançado mundialmente Em Agosto nos Vemos, novela renegada pelo autor em vida por supostamente “não prestar”. Apesar da opinião de seu criador, o livro acabou publicado pelos filhos e foi bem recebido, conquistando os leitores — está, esta semana, entre os mais vendidos da lista de VEJA, dando novo fôlego ao realismo fantástico de Gabo. Além dele, uma obra publicada em 2021 pelo filho Rodrigo Garcia relembra os últimos anos do colombiano, que não foram nada fáceis.
Nascido das anotações de Rodrigo enquanto encarava a morte iminente do pai, Gabo & Mercedes: uma Despedida mescla o sofrimento da perda a passagens cômicas do passado, apresentando facetas até então desconhecidas do autor e sua obra. Quando crianças, Rodrigo e o irmão Gonzalo acordavam Gabo todas as tardes após a sesta. Os dois bolaram uma técnica para despertá-lo sem sustos: paravam na porta do quarto e o chamavam em tom baixo, para que ele não despertasse abruptamente de algum sonho. Se acordava de supetão, os meninos corriam em direção ao corredor para fugir da confusão. “Só eu ou meu irmão poderíamos fazer esse livro”, disse García em entrevista concedida à VEJA na ocasião do lançamento.
A passagem mais impactante dá conta dos últimos anos de Gabo. O filho expõe de maneira sensível a fragilidade de sua velhice. Diagnosticado com demência, o gênio se tornou incapaz de escrever e enfrentou a perda de memória progressiva. “Nos últimos três anos, ele não conseguia escrever. O pior ano foi aquele em que meu pai sabia que estava perdendo a memória. Depois disso, ele seguiu trabalhando em um livro, mas nunca conseguiu terminá-lo. No final, ele lia as próprias obras e às vezes percebia só no desfecho que eram dele. Mesmo antes de perder toda a memória, ele não sabia mais de onde aquelas histórias haviam surgido“, relatou o filho. Mesmo assim, o autor costumava atestar: “A memória é minha matéria-prima”. Seus livros nunca nos deixarão esquecer do valor mágico delas.